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Britney, me desculpa?

Britney saindo da clínica onde esteve internada desde o início de 2019.

Britney, me desculpa? Eu fiquei com tanta raiva de você em 2007. Eu te admirava tanto! Acreditei na tua panca de ícone. Sua loucura me pareceu um desperdício desolador. Eu esqueci o quão implacável pode ser a perseguição dos paparazzi para a saúde mental das celebridades.

Briney, me desculpa? Eu te julguei por ter feito aquelas bobagens: casar com um amigo em Las Vegas, engravidar duas vezes de um dançarino que não era lá flor que se cheirasse, engordar, usar drogas, raspar a cabeça, bater no carro dos fotógrafos com o guarda-chuva. Eu esqueci que você é humana e que, na ribalta do pop, errar é mais fácil.

Britney, me desculpa? Quando seu pai assumiu o controle da sua vida e da sua carreira, achei embaraçoso. Como uma garota super-poderosa conseguiu se perder de tal forma a precisar de uma interdição judicial? Eu esqueci que você é milionária e sustenta muita gente interesseira. Seus pais inclusive, certo? 

Britney, me desculpa? Eu critiquei muito os seus retornos depois do surto. Eu não via mais aquele brilho no olhar, as coreografias vigorosas, a sensualidade que sussurrava pelos poros. De repente, tudo ficou robótico, sem graça, medicado. Eu esqueci que você tinha sido colocada numa redoma para que pudesse ser controlada. E que eu talvez pudesse ter sido mais magnânimo se, em vez de criticar, agradecesse por simplesmente estar viva.

Britney, me desculpa? Falei mal de você depois de ver algumas de suas entrevistas. Você foi ensaiada pra falar? Cadê a segurança, os culhões, a vontade, a esperteza? Eu esqueci que você foi desautorizada a pensar e até a cantar. Sua voz sumiu de vez, ficou no playback. Eu esqueci que a tristeza derivada da submissão pode comprometer a nossa essência. 

A cantora chora em documentário durante desabafo sobre a perseguição da mídia.

Britney, me desculpa? Num primeiro momento, interpretei sua internação de novo numa clínica psiquiátrica como um sinal de fraqueza. Eu esqueci que tudo o que foi mostrado ao mundo após 2007 pode ter sido uma ficção para manter sua imagem de princesa e a arrecadação em torno do seu nome.

Britney, me desculpa? Se a sua luta agora é para se livrar de quem domou você à força, ou se é para se manter viva com um mínimo de dignidade, talvez nunca saibamos. O estrago na sua cabecinha já foi tão grande, e as teorias conspiratórias sobre a sua vida são tantas, que só me resta torcer para que consiga, ao menos, desfrutar um pouquinho de um tipo de felicidade que não advém da fortuna.

Britney, perdoe minha petulância. Já briguei tanto com você aqui na minha mente. Hoje, entendo o porquê. Eu desejava ver seu nome no panteão dos grandes, dos fortes, dos cintilantes. Eu esqueci dos altos e baixos, das bruxas que circundam a terra das fadas e do quão egoístas podem ser aqueles que nos rodeiam. 

Por fim, Brit, já xinguei você só porque não correspondeu às minhas expectativas. Fiz as pazes com esse meu lado bobo. Continuo um fã de sua obra, danço suas músicas na balada com empolgação e já consigo olhar para a sua figura com mais ternura que julgamento. Embora, lá no fundinho, eu ainda suspire com pesar, enquanto pergunto a mim mesmo: por que, meu Deus?

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