Vestibular do amor

O teste do supermercado


O romance é uma coisa engraçada. Começa do nada, a gente vai sentindo se vale a pena e, quando vê, bum! Pode ser amor.

Cada um tem o seu jeito para descobrir se ama. Uns são mais afoitos e se apressam a cumprir os famigerados papéis sociais. Juntam logo as escovas de dente, apresentam o mozão aos amigos, à família e enchem o Instagram de cliques apaixonados.

Outros, como eu, são mais comedidos. E preferem deixar o tempo ditar o ritmo das batidas do coração. Aos poucos, aquela pessoa que surgiu numa mesa de bar ou num aplicativo de paquera (neste eu nunca boto muita fé) vai conquistando o seu espaço nos fins de semana, numa quarta-feira e, finalmente, dentro do peito.

Eu tenho um teste infalível pra saber se eu gamei em alguém. É o teste do supermercado. Percebi, com os anos, que levar alguém pra fazer compras comigo pode ser muito eficiente para apontar os caminhos da paixão.

Primeiro porque fazer a despesa é chato demais. Uma pessoa ao meu lado que consiga tornar essa obrigação menos enfadonha já ganha pontos no jogo da emoção. 

Dividir o carrinho de compras também pode ser um ensaio curioso da vida a dois em níveis mais profundos. Um pega o requeijão. Outro, a geleia. Assim, a gente vai descobrindo do que o casal gosta.

Detalhe importante: olhar para o romance de dentro do supermercado significa mudar de perspectiva. E humanizar aquele começo de relação que sempre se pauta pela conquista fabricada em lugares da moda, onde os dois seduzem usando roupas e perfumes atraentes. 

Ali, em meio às gôndolas, de chinelo de dedo e bermuda, a gente aprende a cavar mais fundo, a ser mais real e a colocar os sentimentos e desejos em cheque: será que eu gosto mesmo e estou disposto a levar as compras pra casa junto com todo o resto?


Se a resposta a essa pergunta vier com um sorriso maroto, um suspiro longo e um friozinho na barriga, então aquele interesse que fez acender a chama pode estar se transformando em amor genuíno.

Se, por outro lado, bater aquela dúvida incômoda, típica de quem não está a fim de dividir a geladeira, os filmes da Netflix e a intimidade, aí é melhor seguir a intuição.

Quem me conhece sabe que amo estar apaixonado. Mas que sou de poucos amores. Esses poucos passaram no teste do supermercado. Com eles, foi um prazer colocar as compras na esteira do caixa e entrar no carro com a sensação de um coração mais cheio do que o freezer.

Muitos foram reprovados. Ou nem dei a chance. É que para cruzar a porta do mercado comigo já precisa ter me provocado aquela coceirinha gostosa na alma. E a maioria, com todo o respeito, não chegou nem na preliminar.

O vestibular do amor existe pra todo mundo. Na busca por um par, estamos sempre avaliando e sendo avaliados. Cada um sabe o peso que dá para cada etapa. Para mim, o carrinho do supermercado, por mais simples que pareça, é o que resolve a equação das emoções da maneira mais inteligente e gostosa. Se bobear, vem até com chocolate.

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