Reputação

Taylor Swift dá um show, mas...


Sempre haverá um "mas" na história de Taylor Swift no cenário pop.

Dizem que é bonita, mas desengonçada. Escreve boas músicas, mas a voz é fraca. É simpática com os fãs, mas tem reputação de cobra entre as celebridades.

É com base nessa reputação (injusta, segundo ela) que Taylor lançou o álbum e a turnê "Reputation" no ano passado.

O disco tem bons momentos ("Are you ready for it?", End Game"), porém sem o mesmo efeito de "1989", álbum anterior, repleto de hits e emblemático da transição entre o country cor-de-rosa e o pop de respeito.

A turnê (só em estádios) é, sem dúvidas, o melhor show de Taylor até agora. O palco é de uma tecnologia e tamanho monstruosos, como a gente consegue ver pelo registro disponível na Netflix. E já que a fama é de cobra, não faltam serpentes gigantes ao lado da estrela, numa demonstração de puro deboche.

A cantora evoluiu. Aprendeu a fazer caras e bocas para a plateia (há até um certo exagero). Está com mais presença de palco. Investiu nas coreografias e figurinos (antes paupérrimos). E consegue um bom resultado geral (veja o trailer abaixo). Mas...sempre existe um "mas".


Convenhamos, Taylor ainda carece de algo que os artistas icônicos têm: personalidade. Isso passa necessariamente por um certo mistério, que ela dispensa.

A loira é acessível demais à plateia. Por vezes, caminha meio esquisita pelo palco gigante. E por mais que desfile ao lado de uma trupe multiétnica, entre músicos e dançarinos, não consegue se desvencilhar da imagem excessivamente branca e elitista.

A audiência é formada, em sua maioria, por mulheres de classe média alta, com as letras na ponta da língua. As músicas convencem mais o público norte-americano, embora a turnê tenha sido monumental mundo afora.

O show tenta agradar a todos, outro defeito. É redondo, pop, perfeitinho. Não se arrisca, não chega a ser arte, não provoca reflexão ou abstrações. É uma obra fechada.

Taylor, além disso, finaliza as músicas quase sempre do mesmo jeito: sem impacto, apenas cantando a última estrofe. Com direito a mais caras e bocas.

A garota merece crédito. Eu não dava um ovo cozido por ela na era country. Já escrevi sobre Taylor antes (leia aqui). Hoje, reconheço que tem seu valor e conseguiu manter a relevância num mercado volátil.

O que o futuro reserva para Taylor Swift e seu público? Difícil saber. Talvez um outro "mas". Talvez mais lenha para a sua reputação.

Nota para o show: 8,5.

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