Ser mulher
Imagem: http://sementinhamissionaria.blogspot.com.br/2015/01/adao-e-eva.html
De dentro do carro, observei duas mulheres com pouco mais de vinte anos, porém já castigadas pelo tempo, empurrando seus carrinhos de bebê. Com dificuldade, elas subiram na calçada e seguiram caminho, provavelmente para casa, onde, suponho, cuidam dos filhos e do marido.
É essa a vida que escolheram? Ou escolheram para elas? Para Simone de Beauvoir, autora de "O Segundo Sexo", a questão não é tão simples.
"As mulheres de hoje estão destronando o mito da feminilidade; começam a afirmar concretamente sua independência; mas não é sem dificuldade que conseguem viver integralmente sua condição de ser humano. Educadas por mulheres, no seio de um mundo feminino, seu destino normal é o casamento que ainda as subordina praticamente ao homem", escreveu.
A obra é considerada um marco do feminismo, ao analisar a mulher não como um ser determinado pela biologia, mas principalmente pela sociedade. Ser mulher, segundo Beauvoir, é uma construção social. Desde a Bíblia. Eva, submissa e demonizada, saiu de uma costela e é a culpada pelos pecados do mundo. Um insulto. Eis a mulher como nos é apresentada.
"As mulheres de hoje estão destronando o mito da feminilidade; começam a afirmar concretamente sua independência; mas não é sem dificuldade que conseguem viver integralmente sua condição de ser humano. Educadas por mulheres, no seio de um mundo feminino, seu destino normal é o casamento que ainda as subordina praticamente ao homem", escreveu.
A obra é considerada um marco do feminismo, ao analisar a mulher não como um ser determinado pela biologia, mas principalmente pela sociedade. Ser mulher, segundo Beauvoir, é uma construção social. Desde a Bíblia. Eva, submissa e demonizada, saiu de uma costela e é a culpada pelos pecados do mundo. Um insulto. Eis a mulher como nos é apresentada.
Que o diga a nossa publicidade, talvez o meio mais tacanha no tratamento dispensado ao feminino. A última peça da Bombril é de doer. Ivete Sangalo, Dani Calabresa e Mônica Iozzi bradam a plenos pulmões que toda mulher é diva, inclusive na hora da limpeza, enquanto todo homem é "diva...gar".
A piadinha revela a preponderância de um discurso maniqueísta que se repete historicamente e continua no inconsciente coletivo: lugar de mulher é na cozinha. Do homem, jamais.
Os anúncios direcionados às crianças fazem ainda pior. Está no ar o de uma boneca que come e faz caquinha. Minha sobrinha quer uma. Isso diz muito sobre o mundo em que vivemos, com jeitão de modernidade, porém preso a uma mentalidade jurássica.
Não por acaso, estudei durante alguns meses a forma como as mulheres, especialmente as maduras, são representadas na mídia, a partir de uma análise sobre Madonna e os comentários que a cercam. Mesmo me amparando na análise do discurso, na linguagem em uso e nas teorias Queer (que questionam os estereótipos acerca das minorias, incluindo gays, negros e mulheres), fui confrontado, para minha surpresa, por uma mulher.
Durante uma apresentação do trabalho, ouvi da sujeita que Madonna é, no fundo, uma cinquentona frustrada que quer recuperar os trinta anos perdidos, vestindo as roupas da filha e namorando homens mais novos.
Esse discurso dos horrores saiu da boca de uma senhora de 51 anos, com a gola abotoada até a pescoço. Ela acredita que o lugar das mulheres com certa idade certamente não é o palco, a glória, o sucesso e a sexualidade plena. Não a culpo. Foi criada para ser cega. Para se conformar com a opressão aos "loucos" e visionários, como bem me entenderia o filósofo da linguagem Focault.
Madonna, durante apresentação no Grammy, em fevereiro deste ano: cinquentona sexy.
"Metade vítimas, metade cúmplices", escreveu Jean Paul Sartre sobre as mulheres. Concordo. Sou filho de uma mulher lutadora e admirador de um ícone que representa a queda dos tabus sexuais. Quero entender essa sociedade que ainda insiste em nos colocar tantas mordaças.
Por isso a minha indignação. Por isso a minha defesa das mulheres. As vítimas. As cúmplices. E, claro, as incompreendidas que, com muita luta e suor, colocam a cerca dos limites um pouco mais adiante.
Por isso a minha indignação. Por isso a minha defesa das mulheres. As vítimas. As cúmplices. E, claro, as incompreendidas que, com muita luta e suor, colocam a cerca dos limites um pouco mais adiante.
Ser mulher não deve ser fácil. Mas pode ser uma dádiva, em vez de castigo, com uma mudança de olhar. O mundo continua míope e rígido para elas. Corrigir essa miopia vai custar caro e pode levar tempo. A revolução é lenta. Mas já começou. E não tem volta.
Brilhante, Zivi, como sempre! No seu exemplo, quem seria a frustada? ;) Madonna, com certeza, não... O diferente assusta aqueles que estão acostumados a viver dentro da "casinha". E, na "casa" dos 30, vejo bem a pressão da sociedade com quem ainda não está casada e não tem um, dois ou três filhos para criar... Já ouviu "22", da Lily Allen? Beijos, querido! Não demore muito para escrever seus textos não.... Camila
ResponderExcluirOi, Camila. Já ouvi a música "22" e gosto muito. É incrível como o mundo dá três passos pra frente e quatro pra trás no que se refere às mulheres. Ouvi hj que o papa continua sendo contra o sacerdócio feminino. E ainda dão ouvidos pra esse cara, pra tanta hipocrisia. Também percebo que há muito machismo entre as próprias mulheres, assustador! E como é pesada a cobrança sobre vocês pra seguir o caminho traçado há séculos, essa necessidade absurda de legislar sobre o útero alheio! Reafirmo: ser mulher deve ser um grande desafio, especialmente para as que não se conformam. Mas, por outro lado, também deve ser encantador. Muitas de vocês estão entre os seres humanos que mais admiro. Bjo!
ResponderExcluirHaja oftalmologistas pra mudar isso tudo!! É esperar pra ver!! Obrigada pelo texto, como sempre excepcional. Bjo, bjo
ResponderExcluirwww.chadefirulas.com.br
Precisamos de uma boa cirurgia a laser pra corrigir de vez esse grau, Laís! Bjo e obrigado pela visita.
ResponderExcluirLendo o seu texto me deparei com um comentário que fizemos semana passada, eu e uma amiga professora, acerca da boneca baby alive comilona: o tempo passa mas as meninas ainda continuam sendo educadas para cuidar de casa e dos filhos. E os brinquedos só reforçam este estereótipo. Minha afilhada de 03 anos quis a boneca e eu dei. Não consegui fazer com ela optasse por outro brinquedo :(
ResponderExcluirJaime
Vou puxar sua orelha, Jaime. Dar a boneca sem ter consciência dessa nojeira é uma coisa. No seu caso, não há desculpa. Se fosse minha afilhada, não ganhava essa boneca dos infernos de jeito nenhum! Que a sua afilhada acorde a tempo de ser uma mulher além dos estereótipos. 😉
ExcluirTenho orgulho de ser mulher, da minha idade, das coisas que já vi e vivi. Me orgulho dos tombos que levei e do que me tornei. Orgulho de ser o que sou hoje e sempre estar tentando me tornar uma pessoa melhor. Homem, mulher, todos são seres humanos, tem sentimentos, planos, metas.
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