Bem-me-quer, malmequer
"Loucas pra casar", comédia nacional em cartaz, é ruim. Ruim, não. Péssimo. Mas tem sua função. É o espelho da realidade de muita gente desesperada. Ao menos o título é um tiro certeiro.
Ingrid Guimarães e sua trupe até tentam arrancar gargalhadas da plateia. Conseguem, no máximo, sorrisos amarelos. O filme é um amontoado de clichês (a bicha derramada, a mãe beata, o macho garanhão, a mulher passiva) e situações previsíveis (bate-boca em restaurante e bafão no casamento), típicas do humor burro, feito sob medida a quem só alcança "Zorra Total".
A produção também fica muitos passos atrás de sucessos recentes de bilheteria, como "Minha mãe é uma peça" e "Homens são de Marte", estes, sim, exemplos de como transformar o lugar comum em esquetes criativas e engraçadas.
Dos estereótipos que contribuem para o machismo e a homofobia, passando pelo texto pobre, piadinhas manjadas e roteiro irregular, "Loucas pra casar" só consegue ser bem-sucedido quando mostra o quanto nos tornamos ridículos quando o assunto é amor.
Malu, a personagem principal, é uma mulher de 40 anos, resolvida profissionalmente, mas vítima da pressão social. Ela não se sente completa sem um homem. Chora porque ainda não se casou. Sofre com a possível infidelidade do parceiro. E, a certa altura, solta a pérola que define essa geração contaminada pela carência afetiva: "Deve ser muito triste acabar sozinho".
Não dá pra esperar muito de uma comédia-escracho feita para as massas. Mas onde está, no cinema, a mulher feliz, sem casamento, sem filhos, sem homem, simplesmente plena? Nem a ficção é capaz de dar voz a um ser tão evoluído.
"Loucas pra casar" é, grosso modo, um Facebook televisionado. Todo mundo desesperado para assumir um relacionamento. Parece uma epidemia. Dia desses, vi um colega mudar o status pela décima vez em poucos meses. Solteiro, relacionamento sério, solteiro, relacionamento sério...
O amor se vestiu de uma efemeridade assustadora. Um outro amigo, que terminou o namoro há pouco mais de um mês, já desfila com novo par, a quem declara juras eternas. Felicidades aos pombinhos, mas...quando foi que tudo ficou tão descartável? Quando foi que começou esse joguinho de bem-me-quer, malmequer? Cadê o intervalo pra tomar fôlego? Jura que isso é amor?
Noite dessas, vendo a reprise de "Maysa", me impressionei com a franqueza e simplicidade da cantora sobre o sentimento.
"Meu único amor verdadeiro foi meu ex-marido. Os outros foram apenas distrações, alguém pra eu me encostar durante a noite", declarou. Outra frase memorável da cantora, entre um drink e outro: "Meu maior medo é amar e não ser amada".
Nos dias de hoje, Maysa provavelmente faria o que quase todo mundo faz com esse medinho da solidão. Coalharia a rede social de fotos com o atual namorado. Se estivesse solteira, sorriria para o mundo e choraria no banheiro.
Assim, "Loucas pra casar" serve para mostrar que os tempos mudaram, não a loucura. Por um amor qualquer, por alguém qualquer, por um relacionamento qualquer, por qualquer coisa que proporcione a ilusão de uma vida menos vazia. Um vazio que o outro jamais será capaz de preencher. Eis o grande paradoxo. Eu te amo. Só que não.
Texto perfeito,essa é a dura realidade de hj,bjs.
ResponderExcluirDaiane, a pergunta de um milhão de dólares é: quando foi que o amor deu lugar à necessidade? Pra mim, esses dois nunca combinaram.
ExcluirObrigado pela visita e pelo carinho. Bjo.
Oi Ro, quase fui ver esse filme hoje , ainda bem que o quase não deixou. Ando descartando coisas ruins, que dirá coisas péssimas !!! rsrsrsr
ResponderExcluirDeveriam ter produzido um outro com o título: Casamento é para loucas, isso sim!! Rsrsrsrsrr
Nossa, como sou exagerada né.
A sociedade cobra demais, é preciso ser forte para suportar e não cair em algumas armadilhas. Hoje em dia tá difícil aguentar essa pressão, é necessário muita maturidade e personalidade. Não vamos generalizar, tem muitos solteiros espertos por ai né. Sabem que o desespero só faz as pessoas ficarem cegas acarretando atitudes infelizes.
Ótimo seu texto meu amigo.
Bjs, até mais! (Rose)
Rose, adorei a sugestão do novo título, hahaha! Concordo. Sobre o filme, estava falando agora há pouco com um amigo que se divertiu muito na sessão. A interpretação é subjetiva, como ele disse. Eu não gostei, ando muito exigente com filmes e acho que há comédias muito melhores. Mas, na dúvida, veja! E pode discordar de mim, se for o caso. Sem problemas! Rsrs. Obrigado por mais um comentário espirituoso. Bjos.
ResponderExcluirÓtimo texto. Concordo em relação ao filme. No mais, o problema hoje é que vivemos uma carência desenfreada e mudar o status de relacionamento nas redes sociais é muitas vezes exibir um troféu e mostrar aos outros que você é tão bom que nunca está sozinho. Pura ilusão. Banalizou-se o amor e as relações hoje duram o tempo de postar uma foto e fazer uma declaração de amor. Uma pena, mas me parece um caminho sem volta. Enfim..... Abraços. Jaime
ResponderExcluirA era dos troféus essa, Jaime, rsrs. Caminho sem volta? Prefiro acreditar que ainda encontraremos caminhos melhores para expressar afeto, amor e verdade, muito além dessa vitrine dos desejos que vemos nas redes sociais. Sou otimista, rsrs.
ExcluirPelo menos, por enquanto, nos resta lamentar. Mas não percamos a esperança. Afinal, ainda há quem pense como a gente. Abs!
Rô!!! adorei o texto, apesar de nao ter assistido o filme, mas imagino sim q seja bem "clichezinho"! rsrrs, e independente da mensagem do filme, penso que uma "regra" basica de tudo na vida é : em primeiro lugar estar feliz e satisfeito consigo proprio, ter alto estima e se dar valor, só assim podemos "procurar" a felicidade no proximo, do contrario... é dar murro em ponta de faca!! e ja que filmes de comedia andam no estilo gosto duvidoso que tal um bom filmaço de terror hein!!! Meu amado amigo irmão uma otima quinta!!bjuss
ResponderExcluirProcurar a felicidade no outro? Sei não, Elaine. Agora, dividir a felicidade com o outro, quem sabe, né?
ResponderExcluirSobre o filme, mil vezes um bom terror do que essas loucas pra casar de araque, rsrs. Eu topo.
Bjos, Elaine!