Lula e eu

Meu primeiro contato relevante com Lula foi durante a polêmica eleição de 1989. O barbudo concorria com Fernando Collor de Mello. Não gostava do Lula. Achava ele feio, antipático, ignorante e não conseguia imaginar o país, que naquela época era uma bomba-relógio, nas mãos de um sujeito sem um dedo e com um discurso tão proletário. Eu era um adolescente ingênuo, admito.
Assim como boa parte do eleitorado adulto brasileiro. Não estávamos acostumados com o sórdido jogo do vale-tudo na política às vésperas de um pleito tão importante. O brasileiro se recuperava de um longo e traumático período ditatorial. E ainda comemorava, eufórico, o sucesso do movimento “Diretas Já!”.
Eu, a Rede Globo e todo o resto da elite tínhamos absoluto horror à idéia de Lula no poder. Arrogante, eu costumava repetir o discurso vigente, de que não me enxergava naquele operário de aspecto sujo e português violentado. Tendenciosa, a Globo editou o debate em favor do autoproclamado “caçador de marajás”, que ganhou. Alívio. O recado estava claro: Lula, nos deixe em paz.
A História se encarregou de nos lembrar duas lições importantes: a de que as aparências enganam e a de que cada povo tem o governo que merece. Com o tempo, Collor mostrou que o sorriso charmoso, a habilidade sobre o jet ski, a gramática ilibada e o jeitão de salvador da pátria funcionavam apenas como uma cortina de fumaça. O presidente com pinta de galã era, na verdade, um homem corrupto.
Vieram Itamar Franco, com seu topete engraçado, e Fernando Henrique Cardoso, meio pai, meio padrasto do Plano Real, que enterrou a inflação galopante. O milagroso ajuste econômico, após décadas de oscilação, rendeu a FHC oito anos no poder. Tínhamos, finalmente, um líder inteligente, reconhecido mundialmente por seus méritos acadêmicos, admirado pelos endinheirados e respeitado pelos mais simples. De um Fernando a outro, quanta diferença. Brasileiro cresce rápido.
A lógica apontava que FHC faria, fácil, seu sucessor. Com o apoio do mercado global, a estratégia de campanha foi norteada, novamente, pelo pânico. Tudo para não colocar em risco as suadas conquistas. O eleitor, no entanto, não era mais o mesmo de 1989. Estava mais esperto. Lula também. Contrariou a lógica, ganhou de lavada e se firmou como o mais popular dos presidentes da República. Sem jet ski, sem diplomas. Agora, até mesmo sem o PT, do qual se desvencilha a cada escândalo. Não é bobo. É carismático.
Já são quase oito anos. Lula, coitado, continua feio. Com a intervenção de Duda Mendonça, ficou simpático. Fala melhor. Quando viaja, leva um tradutor a tira-colo. Está longe de ser perfeito. Defendeu José Sarney no escândalo do Senado, mostrou os (novos) dentes para seu arquirrival Collor e sempre faz a "linha Kátia" quando o assunto é delicado. Não sabe de nada. Liso como um bagre. Como qualquer brasileiro.
Hoje, apesar de tudo, sou fã do Lulinha. Para mim, é quase um pai. Olho pra ele e me dá vontade de correr para um abraço. Lula conseguiu um feito inédito, entre tantos outros: transcendeu a figura de chefe de Estado e virou paizão do Brasil. Que erra. Que às vezes é injusto. Que também pode meter os pés pelas mãos. Querendo acertar. E acertou mais do que errou.
A solidificação do mito não se deu pelas mudanças que sofreu, mas pela essência que conservou. É verdade que, com a ajuda da competente assessoria, abandonou aquele ar de sapo-boi e adotou o de urso bonachão. O que de nada adiantaria se Lula não fosse também eficiente. Inteligente, à sua forma. Político brilhante. Nota 10 em jogo de cintura. E, o mais importante, um homem de resultados.
Em última instância, o que dita a consagração de um líder é o bem-estar de seu povo. Bem-estar que se traduz em uma palavra mais abrangente do que se imagina: economia. E quem diria que Lula se tornaria quase um PHD no assunto?
Não vivemos no paraíso, eu sei. O Brasil continua sendo um enorme navio de carga, com furinhos no casco, em meio a um oceano turbulento. Pelo menos conseguimos uma direção. O capitão é gente como a gente, tem um sorriso maroto e, aos trancos e barrancos, agrada a quem tem mais e a quem tem menos. Não é uma unanimidade. Mas, reconheçamos, é o que mais se aproxima disso.
O filme sobre a trajetória de Lula já está pronto. Dirigido por Fábio Barreto, estreia em janeiro, com a promessa de quebrar recordes. Segundo uma prestigiosa revista de circulação semanal, é mais uma peça publicitária, com toques melodramáticos e até irreais, na tentativa de Lula fazer seu sucessor. Assim como FHC queria Serra, o atual governo quer a dama de ferro Dilma Rousseff. E assim como Serra perdeu para Lula, Dilma já sabe das probabilidades.
Não temos outro Lula no páreo. O nosso próximo presidente é uma incógnita. Que comece mais um vale-tudo. No que depender de mim, o Brasil não sai dos trilhos. Já sei reconhecer os Collors e os despreparados. Lula é o que menos precisa se preocupar. Veio, insistiu, venceu, calou a minha boca e a de todo mundo com uma categoria digna de Getúlio e Kubitscheck.
Mérito de uma política anterior ao barbudo, mas que se sedimentou com ele. De Obama a Chávez, todos fazem reverência ao nosso baixinho. Lula me conquistou. Vou ver o filme. Sem ingenuidade. Porque, afinal, a Dilma não tem a mínima chance comigo. Mas do meu paizão eu não deixo ninguém falar mal. Nunca mais.
Assim como boa parte do eleitorado adulto brasileiro. Não estávamos acostumados com o sórdido jogo do vale-tudo na política às vésperas de um pleito tão importante. O brasileiro se recuperava de um longo e traumático período ditatorial. E ainda comemorava, eufórico, o sucesso do movimento “Diretas Já!”.
Eu, a Rede Globo e todo o resto da elite tínhamos absoluto horror à idéia de Lula no poder. Arrogante, eu costumava repetir o discurso vigente, de que não me enxergava naquele operário de aspecto sujo e português violentado. Tendenciosa, a Globo editou o debate em favor do autoproclamado “caçador de marajás”, que ganhou. Alívio. O recado estava claro: Lula, nos deixe em paz.
A História se encarregou de nos lembrar duas lições importantes: a de que as aparências enganam e a de que cada povo tem o governo que merece. Com o tempo, Collor mostrou que o sorriso charmoso, a habilidade sobre o jet ski, a gramática ilibada e o jeitão de salvador da pátria funcionavam apenas como uma cortina de fumaça. O presidente com pinta de galã era, na verdade, um homem corrupto.
Vieram Itamar Franco, com seu topete engraçado, e Fernando Henrique Cardoso, meio pai, meio padrasto do Plano Real, que enterrou a inflação galopante. O milagroso ajuste econômico, após décadas de oscilação, rendeu a FHC oito anos no poder. Tínhamos, finalmente, um líder inteligente, reconhecido mundialmente por seus méritos acadêmicos, admirado pelos endinheirados e respeitado pelos mais simples. De um Fernando a outro, quanta diferença. Brasileiro cresce rápido.
A lógica apontava que FHC faria, fácil, seu sucessor. Com o apoio do mercado global, a estratégia de campanha foi norteada, novamente, pelo pânico. Tudo para não colocar em risco as suadas conquistas. O eleitor, no entanto, não era mais o mesmo de 1989. Estava mais esperto. Lula também. Contrariou a lógica, ganhou de lavada e se firmou como o mais popular dos presidentes da República. Sem jet ski, sem diplomas. Agora, até mesmo sem o PT, do qual se desvencilha a cada escândalo. Não é bobo. É carismático.
Já são quase oito anos. Lula, coitado, continua feio. Com a intervenção de Duda Mendonça, ficou simpático. Fala melhor. Quando viaja, leva um tradutor a tira-colo. Está longe de ser perfeito. Defendeu José Sarney no escândalo do Senado, mostrou os (novos) dentes para seu arquirrival Collor e sempre faz a "linha Kátia" quando o assunto é delicado. Não sabe de nada. Liso como um bagre. Como qualquer brasileiro.
Hoje, apesar de tudo, sou fã do Lulinha. Para mim, é quase um pai. Olho pra ele e me dá vontade de correr para um abraço. Lula conseguiu um feito inédito, entre tantos outros: transcendeu a figura de chefe de Estado e virou paizão do Brasil. Que erra. Que às vezes é injusto. Que também pode meter os pés pelas mãos. Querendo acertar. E acertou mais do que errou.
A solidificação do mito não se deu pelas mudanças que sofreu, mas pela essência que conservou. É verdade que, com a ajuda da competente assessoria, abandonou aquele ar de sapo-boi e adotou o de urso bonachão. O que de nada adiantaria se Lula não fosse também eficiente. Inteligente, à sua forma. Político brilhante. Nota 10 em jogo de cintura. E, o mais importante, um homem de resultados.
Em última instância, o que dita a consagração de um líder é o bem-estar de seu povo. Bem-estar que se traduz em uma palavra mais abrangente do que se imagina: economia. E quem diria que Lula se tornaria quase um PHD no assunto?
Não vivemos no paraíso, eu sei. O Brasil continua sendo um enorme navio de carga, com furinhos no casco, em meio a um oceano turbulento. Pelo menos conseguimos uma direção. O capitão é gente como a gente, tem um sorriso maroto e, aos trancos e barrancos, agrada a quem tem mais e a quem tem menos. Não é uma unanimidade. Mas, reconheçamos, é o que mais se aproxima disso.
O filme sobre a trajetória de Lula já está pronto. Dirigido por Fábio Barreto, estreia em janeiro, com a promessa de quebrar recordes. Segundo uma prestigiosa revista de circulação semanal, é mais uma peça publicitária, com toques melodramáticos e até irreais, na tentativa de Lula fazer seu sucessor. Assim como FHC queria Serra, o atual governo quer a dama de ferro Dilma Rousseff. E assim como Serra perdeu para Lula, Dilma já sabe das probabilidades.
Não temos outro Lula no páreo. O nosso próximo presidente é uma incógnita. Que comece mais um vale-tudo. No que depender de mim, o Brasil não sai dos trilhos. Já sei reconhecer os Collors e os despreparados. Lula é o que menos precisa se preocupar. Veio, insistiu, venceu, calou a minha boca e a de todo mundo com uma categoria digna de Getúlio e Kubitscheck.
Mérito de uma política anterior ao barbudo, mas que se sedimentou com ele. De Obama a Chávez, todos fazem reverência ao nosso baixinho. Lula me conquistou. Vou ver o filme. Sem ingenuidade. Porque, afinal, a Dilma não tem a mínima chance comigo. Mas do meu paizão eu não deixo ninguém falar mal. Nunca mais.
Bem...não sou a melhor pessoa pra falar de política...deveria ser mais informada, confesso. Mas,com relação ao Lula, gosto muito da sua história como operário, porém, como presidente deixa muito a desejar...pois aí, já não é mais o Lula operário, mas uma persona...um homem que, como qualquer mortal, salvo raras exceções, quando chega no poder, se vislumbra, esquecendo-se da sua longa e suada trajetória, pior, esquecendo-se das pessoas que o colocaram lá...o povo, eu, você. Eu digo isso, enfocando na minha área, a educação. Ora, recentes pesquisas apontam uma melhora para a educação...que lugar que a educação pública está melhor? Por favor, alguém me avise. O que são 40 ou mais alunos dentro de uma sala...onde 10, ou menos, mostram-se interessados? O que é a inclusão no ensino público? A inclusão de um deficiente visual numa turma de 40 alunos, onde não existe um auxiliar pra esse deficiente, e que o professor na sua graduação não recebeu nenhuma formação pra trabalhar com esse aluno numa turma regular...isso é incluir? É...incluir mais um aluno: 40 mais 1...que beleza! Só quem está de perto pra ver que a inclusão é total exclusão...tenho pena desses alunos, dos pais e dos educadores, tb. É bonito falar em quantidade, em números, e a qualidade? Ah...deixa para os países cultos e desenvolvidos...aqui o pessoal se contenta com umas cestas básicas no final do mês. Luciana.
ResponderExcluirEngraçado você escrever um textão desses, falando da própria experiência, do que considera um equívoco de avaliação, e no finzinho cravar: "Dilma não tem chance comigo".
ResponderExcluirConfesso que sorri no fim.
Luciana, sempre bom ver você por aqui. E sua opinião é válida, sim. Mas se olharmos para o Brasil de antes, podemos, certamente, concluir que o país de hoje tem mais qualidade. Ainda há um longo caminho a percorrer, é verdade, mas já melhoramos. Para o pobre que hoje consegue comer melhor no fim do dia, Lula sempre será o melhor presidente do mundo. Para o empresário que nunca ganhou tanto dinheiro em um governo, também. Não acho que o Lula se deslumbrou com o poder. Acho que ele fez o que pode e procurou aliar os interesses dele com os dos outros. Do contrário, seria impossível governar. Concorda?
ResponderExcluirRicardo, gostei do seu senso de ironia. Não acho que a Dilma seria uma presidente ruim. Só acho que, no caso dela, sobra "mão de ferro" e falta carisma. As razões pelas quais ela não tem chance comigo não são as mesmas que me fizeram votar em Collor nem as que me levaram a rejeitar Lula. Hoje, quero acreditar, sou menos ingênuo.
Um forte abraço.
Correção:
ResponderExcluir"...quando chega no poder, se DESLUMBRA,..."
Desculpe pelo erro...rs. Mas iria ficar muito vergonhoso para mim, ainda mais escrevendo sobre educação. rs
Luciana