Teia tecnológica

Lições que o cinema ensina

Lição número um do cinema comercial contemporâneo: a imagem vale mais do que uma boa história. Esta é a premissa de "O espetacular Homem-Aranha", novo campeão de bilheteria. Vi o filme como pede um bom blockbuster: em boa companhia, comendo pipoca tamanho gigante e tomando um balde de refri. 

Achei o novo Homem-Aranha bobo. Mal dirigido, mal interpretado e mal contado. O diretor Marc Webb se saiu muito melhor em "500 dias com ela", comédia romântica em que o poder da imagem é explorado de forma inteligente, como um espelho da aflição do personagem central, sofrendo por seu objeto de desejo inalcançável.

No caso do Homem-Aranha, é tudo fácil demais, para agradar a uma plateia teen acostumada à velocidade da internet e, portanto, preguiçosa. É mais ou menos o que acontece com "Branca de Neve e o Caçador", que se salva pela estonteante Charlize Theron como a rainha má. O resto é uma sucessão de imagens digitalmente bem cuidadas, adornadas por uma história que, embora conhecida de todos, ficou sem graça, mesmo com ares de superprodução.

Da nova safra, "Prometheus" foge à regra. O prelúdio de "Alien", sob a batuta do sempre competente Ridley Scott, é um deslumbre e, ao mesmo tempo, uma história interessante. Porém, deixa claro que a imagem, sob qualquer circunstância, é mais forte que o roteiro. 

O que o cinema de massa sempre propôs é entretenimento para um público raso. Hoje, a proposta se agrava em meio à falta de qualidade, nunca tão evidente, graças às facilidades proporcionadas pelas teias da tecnologia. Vide a inferioridade do atual aracnídeo, se comparado ao super-heroi da trilogia dirigida por Sam Raimi. Inferior, mas talvez não menos bem-sucedido. Afinal, esta é uma geração peculiar, que supervaloriza a estética e aplaude qualquer coisa com cara de videogame.

Mesmo os mais velhos já se contaminaram. Não vivem sem que suas experiências sejam intermediadas pela tecnologia, especialmente pela imagem em si. No Facebook, por exemplo, são todos escravos dessa engrenagem maquiavélica. Se as fotos do almoço, dos amigos, da balada ou do cachorro não estão lá, de preferência tratadas com photoshop, é como se a vida não existisse. 

A sétima arte, assim, não pode ser culpada por dar a seu público o que ele exige. O mesmo público que vai a um show ao vivo e prefere gravar a apresentação inteira pelo celular a prestar atenção no seu artista favorito, ali, em carne e osso. Compreensível. Não compartilhar o vídeo no Face é o mesmo que não ter visto o show. 

Na era em que a imagem precede a experiência, o espetáculo não é real. É apenas um registro. Assim como o novo Homem-Aranha ou a Branca de Neve estilizada de Hollywood, disfarçados pelos efeitos e desprovidos de um mínimo de charme. 

Perturbador perceber que, quanto mais a tecnologia avança, mais fácil é a comunicação, mais bela é a imagem e, ironicamente, mais distantes nos tornamos do que, de fato, importa: ver um bom filme e viver a vida como ela é.  

Comentários

  1. Uaaauu!!! Filosofou e eu gostei: "Na era em que a imagem precede a experiência, o espetáculo não é real. É apenas um registro" – triste e verdade.

    É fraco, mas até curti o novo Spider-Man Lado Ameba hehe. O primeiro WINS!

    A esperança que fica é de ainda vermos bons filmes munidos do bom-senso no uso das novas tecnologias.

    ;)

    ResponderExcluir
  2. Há filmes munidos de bom senso no uso de novas tecnologias, porém em número ínfimo. O inverso, infelizmente, é muito mais numeroso.

    ResponderExcluir
  3. "...ver um bom filme e viver a vida como ela é."

    Coisa mais linda esse menino, genteeeeeeeeee!

    Sou sua fã, completamente fã. Além de mamys virtual, claaaaaaaro.

    (Lindo demais ler o que não está escrito...). rsrsrs Beijo para number one e number two.

    ResponderExcluir

Postar um comentário