Shopping com vista
Fernandinho (Pessoa) já disse que "navegar é preciso, viver não é preciso". Gosto de pensar que ele se referiu à necessidade de manter a vida em movimento, evitando o comodismo.
Viajar é uma das formas de, literalmente, movimentar-se rumo ao conhecimento, a novas experiências, ao prazer de pisar em outros solos.
Fazer um cruzeiro era um desejo antigo que, finalmente, tive a oportunidade de concretizar, ao lado do companheiro Ricardo. Entrar em um navio que mais parece um resort sempre foi a minha ideia de unir descanso com boa alimentação. Nesse quesito, o programa não decepciona.
Em muitos aspectos, porém, fazer um cruzeiro é o mesmo que dar uma volta mais longa em um shopping no fim de semana. O navio também tem ar condicionado, lojas, bares, restaurantes e muita gente.
Assim como os shoppings, os navios precisam de público. Um ponto problemático, já que a meta, muito antes de proporcionar conforto e bem-estar, é colocar o maior número de pessoas a bordo, visando o lucro.
Multidões sempre nadam contra a maré da proposta inicial: oferecer ao navegante (ou ao consumidor) uma espécie de cidade perfeita e agradável. Com filas até pra pegar lugar perto da piscina, a perfeição fica apenas na vista para o mar.
Engraçado pensar ainda que um grande cruzeiro deixa evidentes certas desigualdades sociais. Enquanto uma elite viaja, está lá a mão de obra barata e explorada (geralmente da Indonésia, Panamá e até do Brasil) para garantir que as mesas e cabines estejam sempre limpas e arrumadas.
Pelos corredores do navio, fica muito claro que o mandamento é consumir. As bebidas, não incluídas no pacote, são caríssimas. Tudo em dólar.
Por vezes, a gente esbarra em feirinhas parecidas com as da praia, perto da piscina ou dos bares. No lugar dos populares cacarecos, são oferecidos perfumes, bolsas e relógios importados. Gourmetizaram o calçadão do litoral.
A decoração da maioria dos ambientes beira o excesso, o cafona. Lembra um motel com recursos. Veludo, cortinas, sofás zebrados, tapetes e luminárias dos mais variados tamanhos e formatos.
Pontos altos: as refeições, a cama confortabilíssima, o teatro com programação diária, os golfinhos dando um olá e a cordialidade de alguns funcionários. Porque, acredite, há também os estressados e mal educados.
No geral, foi muito bom. Ver o pôr do sol em meio à imensidão do oceano não tem preço. Conhecer um pouquinho de Buenos Aires (olha a Casa Rosada aí embaixo) e Montevidéu, nas breves paradas, foi igualmente prazeroso.
Descer do navio, de volta ao Brasil, e pegar o metrô para a rodoviária é um inegável choque de realidade, após uma semana num simulacro de paraíso. A gente se acostuma com o que é bom muito rápido.
E, apesar das semelhanças, se eu precisar escolher entre um navio e um shopping, escolho navegar de novo. Sem titubear.
Tirando todos os probleminhas foi uma delícia passar esse momento com você.
ResponderExcluirSinto saudades do barulho do mar, do balançar do navio, das comidas e da sacadinha. :)
<3 :)
Vira e mexe, tenho vontade de rebobinar a fita, voltar no tempo e sentar numa daquelas mesas do restaurante, pra comer pizza, donuts, tomar café com leite e olhar a tua carinha de satisfação rsrsrs.
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