Do lado de cá

Vida de jornalista


A greve dos caminhoneiros foi a prova cabal de que vida de jornalista está longe, mas muito longe mesmo, de ser glamourosa.

Os vídeos de manifestantes colocando fogo nos carros de algumas emissoras são apenas a ponta do iceberg de uma realidade alimentada pela paranoia.

Primeira coisa: ninguém estava contra a greve. Nem a Globo. As reportagens deixaram isso claro e em momento algum vilanizaram os grevistas.

Segundo: a maioria dos caminhoneiros entendeu e tratou a gente com respeito. Mas houve uma minoria barulhenta. Colegas meus, entre repórteres, motoristas e cinegrafistas, foram agredidos, verbal e/ou fisicamente.

De microfone em punho, fui xingado mais de uma vez por gente que, quero acreditar, nem se dava ao trabalho de assistir à nossa cobertura na TV, sempre generosa com o movimento.

O que muita gente precisa saber é que não existe, da nossa parte, ninguém mancomunado com este ou aquele lado. Nessas horas, o que rola é a informação que transborda de todos os cantos.

A nossa missão é falar com todo mundo e dar um tratamento adequado à linguagem. A notícia não tem dois lados, como se presume. Tem vários.


Repórter não pode abrir o microfone só para um lado e abafar o outro. Temos a obrigação de ouvir quem parou de trabalhar, escutar seus motivos e reivindicações. 

Assim como temos de buscar a notícia nas outras pontas, sejam elas o governo, os comerciantes, os agricultores ou os motoristas que ficaram sem gasolina. 

Há uma falsa percepção, inclusive respaldada por algumas teorias do jornalismo, de que a imprensa é movida unicamente por interesses políticos escusos. 

Diante dos acontecimentos, o que vi foi um batalhão de jornalistas tentando passar a informação mais isenta possível. 

Graças ao que se viu na TV e nos jornais, em se tratando das consequências da greve, a pressão chegou. E a pauta foi atendida.

Não adianta bater na gente, xingar, botar fogo em carro e pedir intervenção militar. Até porque, numa ditadura, não é só a livre imprensa que cai. Caem junto os direitos individuais e os coletivos, INCLUSIVE O DE GREVE, garantido hoje pela Constituição.

Aplausos, aqui, aos caminhoneiros de bem que, unidos, provaram a sua força, sem violência, e deram um exemplo digno à sociedade. Estamos todos juntos na luta por um país melhor.

E meus cumprimentos aos colegas de imprensa que se arriscaram para levar os fatos (e não porrada) a quem precisava decifrar as múltiplas ramificações desse momento histórico. 

Paz.

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