Danos morais

Marcela Tavares é gozação

Marcela Tavares em Ribeirão Preto: eu tô ali, na primeira fileira. 

Não sei se foi só impressão, mas achei a Marcela Tavares menos engraçada ao vivo do que na internet. No Teatro Municipal de Ribeirão Preto, onde a facebooker (sim, você leu certo) apresentou o stand up "Danos Morais", foi tudo, sei lá, meio pombo.

A carioca que faz fama na rede social com seus vídeos politicamente incorretos (quase sempre descendo o sarrafo nos corruptos ou reclamando de quem escreve errado) pareceu meio nervosa e teve dificuldade para arrancar gargalhadas do engessado público ribeirãopretano.

Marcela foi mais aplaudida quando fez piada com a ex-prefeita Dárcy Vera e o atual Duarte Nogueira, um truque manjado dos humoristas pra ganhar a plateia da cidade onde se apresentam. A moça também se rendeu a outros clichês do teatro, como pegar um infeliz da plateia pra Cristo (dessa vez, foi um tal de Luiz, que ela insistia em chamar de feio).

Fora isso, teve "Fora, Temer" e de tudo um pouco que a gente já viu por aí: piadinhas escatológicas (muitas de mau gosto), palavrões e comentários duvidosos sobre minorias. Marcela Tavares até tentou ser espontânea, mas, assim como em qualquer stand up, as piadinhas, acredite, são programadas. 

Descalça, com um vestido curto (que, em alguns momentos, deixava sua calcinha à mostra para quem estava na primeira fileira) e usando brincos no formato de laranjas, a comediante se transformou, em pouco tempo, numa caricatura de si mesma e, tenho convicção, sente a pressão pra ser engraçada o tempo todo, o que, por vezes, soa exaustivo.

Foto do perfil de Marcela Tavares no Facebook.

Rápida no gatilho quanto o assunto é internet, onde costuma ser bem mais desenvolta que no palco, Marcela acertou em cheio em alguns detalhes. Antes de entrar, por exemplo, a gata troca mensagens e fotos engraçadas por whatsapp com a plateia, através de um telão, pra esquentar o público. Genial.

O vídeo de introdução do espetáculo, nesse mesmo telão, é hilário, talvez o melhor momento do show, com instruções e sugestões absurdas para os espectadores. No mais, é Marcela, baixinha que só ela, fazendo piadas, algumas razoáveis. Poucas são sensacionais. A maioria é chatinha, abaixo do nível de qualquer vídeo dela corrigindo os analfabetos funcionais desse mundo.

Não foi o melhor stand up que já vi. Aliás, não sou muito fã desse formato, a exemplo do que já escrevi sobre Paulo Gustavo em "Hiperativo" neste blog. Por outro lado, tenho um profundo respeito por quem se arrisca a ganhar dinheiro no teatro e, acima de tudo, dá a cara a tapa, correndo o risco de tomar processo, como é o caso da Marcela com sua metralhadora giratória.

Em "Danos Morais", sobra pra todo mundo: Temer, Marcela (a do Temer), Dilma, homens, mulheres, héteros, gays, religiosos, magros, gordos, bonitos e feios. Tem que levar na brincadeira, esse é o espírito. A gente sabe que por trás dessas piadas há algumas verdades, descontadas as provocações. 

Cabe a nós, com bom senso, fazer a distinção. E, no final, mesmo que com um sorriso amarelo, reconhecer o esforço da facebooker pra conquistar o seu lugar ao Sol nesse mundo tão chato, onde dar risada tá cada vez mais difícil. 

A nossa sorte é que o Brasil é piada pronta. E a Marcela Tavares é pura gozação.

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