Escrava de curtidas

Prazer, Jujuba


Jujuba é uma balzaca que adora rede social. Curte um monte de fotos e adora ser "curtida". É uma escrava de likes.

Sempre que se sente deprimida, posta foto fazendo biquinho e ganha um monte de fãs que a acham gostosa. Na verdade, é insegura, mas ninguém sabe. Debaixo do cobertor, desarrumada, Jujuba se sente solitária e pouco atraente. Nada que algumas curtidas não resolvam. 

Jujuba tem amigos de balada, sai bastante e tira muitas fotos. Ela posta pelo menos uma por dia, virou vício. Quando vê o coraçãozinho vermelho pulsando de curtidas no Insta, vibra por alguns minutos. A felicidade é instantânea, quase uma droga. Jujuba precisa de mais, muito mais.

Então, ela posta foto da comida que preparou, ou da barca com salmão que chegou na mesa do bar. Ela posta foto com a colega loira e sarada de quem sente um pouquinho de inveja, mas...ninguém sabe. Ela posta foto de biquíni na piscina da chácara dos tios, com óculos escuros e cabelos ao vento, exibindo a barriga chapada. Logo abaixo, uma frase de Caio Fernando de Abreu, só pra disfarçar o impulso narcisista. 

A cada foto, inúmeras cantadas, versos safados de moças e rapazes protegidos pelas telas de seus celulares e que oferecem, no lugar de uma boa pegada em carne e osso, uma carinha simulando uma piscada de olho, ou com a linguinha de fora. Jujuba fica feliz, sem se dar conta de que essa roda viva só aumenta o vazio existencial do qual ela sempre reclama.


Jujuba não lê muito, só alguns posts nas redes sociais. Também não vai ao cinema, acha chato, os filmes são longos. Vê muita TV, sem prestar muita atenção. Fez faculdade, conseguiu um emprego num escritório e ganha o suficiente pra pagar o aluguel, comida, roupas e maquiagem. 

Jujuba já teve alguns namorados, mas agora está na caça. Não gosta de ficar solteira, mesmo já tendo experimentado a terrível solidão a dois. Não sabe conversar sobre muita coisa, mas tem uma bela bunda. Dá uns beijos de vez em quando. E posta frases de mulher bem resolvida assinadas por uma tal de Clarice Lispector.

Jujuba vai à academia três vezes por semana, às vezes duas. Malha menos do que deveria. Fica distraída com o celular, sempre na mão. Curte caras sem camisa e a Rihanna. Não sabe se é a favor ou contra o impeachment da Dilma. Posta foto em frente ao espelho, com roupa de ginástica, depois volta pra casa e posta outra, na cama, mandando beijinho de boa noite aos seguidores.

No dia seguinte, antes de sair para o trabalho, já maquiada, posta foto para dar bom dia. No carro, olhando pelo retrovisor com jeito sexy, tira mais uma e posta também. Por instantes, sente-se interessante. As fotos são um sucesso. Mas o coração que Jujuba ganha, por enquanto, é só aquele do Insta mesmo, vibrante, não para nunca! Tá tranquilo. Tá favorável. Ela vai se sentir triste. Não vai entender o porquê. Sem problemas. Daqui a pouco ela posta outra foto. E todo mundo ama a Jujuba. Tudo numa boa.

**As fotos que acompanham o texto são meramente ilustrativas. Jujuba é personagem fictícia, apenas inspirada em tantas Jujubas que saltitam por aí. Se você se identificou com ela, ou conhece alguém assim, guarde para a terapia.

Comentários

  1. Jujubas são, em sua grande maioria, mulheres habituadas a e oprimidas por um contexto em que o belo é um só e precisa ser visto, elogiado. A tela do smart é uma excelente ferramenta para essa legitimação, uma vez que, ali, o aceitável passa por específicos crivos, não comprometidos com as específicas realidades, por vezes, maquiadas com os mais variados filtros, escondendo as mais variadas formas de violência.
    As Jujubas dormem felizes, não assim sendo.

    ResponderExcluir
  2. Jujubas são, em sua grande maioria, mulheres habituadas a e oprimidas por um contexto em que o belo é um só e precisa ser visto, elogiado. A tela do smart é uma excelente ferramenta para essa legitimação, uma vez que, ali, o aceitável passa por específicos crivos, não comprometidos com as específicas realidades, por vezes, maquiadas com os mais variados filtros, escondendo as mais variadas formas de violência.
    As Jujubas dormem felizes, não assim sendo.

    ResponderExcluir
  3. Até que enfim deu certo seu comentário aqui, Bruno! Suas observações parecem saídas de uma dissertação de mestrado, rsrs. Que as Jujubas acordem e sejam, enfim, felizes. Que aprendam que curtir a vida, na real, é diferente e vai muito além de uma ou um milhão de curtidas virtuais. Abraços e volte sempre!

    ResponderExcluir
  4. Rsrs... Ainda não, Rodrigo. Mas há sim uma pretensa dissertação a caminho.
    Abrações!

    ResponderExcluir
  5. Oiii Zivi, entao... as Jujubas e esse tal de Falseobook e demais redes "sociais"!!! Otimo texto como sempre, uma de minhas leituras prediletas, que sempre encontro aqui!!! Sdds amigo querido, Bjuss

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Elaine, sua sumida! Bom ver vc por aqui de novo. Apareça em carne e osso tbm. Nada de jujuba! Rsrs.Sdds e beijos!

      Excluir
  6. arrasou nas letras Zivi, adorei o teu texto. O Zigmunt Bauman deu uma entrevista e declarou: "Las redes sociales son una trampa!", e tenho lido muito a respeito desse comportamento e a Sirina Wadud tem escrito sobre isso no blog que ela publica durante esse ano. Que triste que a maioria de nós estamos vivendo... tão solitários e iludidos e "perdidos". Eu só me salvo disso porque me agarro nas letras e repudio redes sociais. A diferença do resultado entre a frustração das curtidas vazias e o aprendizado que adquiro lendo é que é gritante.

    um abraço! <3

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, Juliana, como vai? Sou jornalista, de São Paulo. Ano passado, fiz uma reportagem sobre a cadeia produtiva do tabaco, publicada na Agência Pública, e você fez um comentário muito interessante nela, inclusive, mostrando conhecimento de causa. Tentei te localizar nas redes sociais, mas não consegui. Gostaria de falar contigo, como podemos conversar? Abraço.

      Excluir
    2. Este comentário foi removido pelo autor.

      Excluir
  7. Ler... Está aí um hábito em desuso, praticamente morto, entre as (e os tbm!) jujubas dessa vida bandida. Pois é, não que eu me compare a Bauman, mas é bom saber que mais gente percebeu o que eu notei. O pior É que tem gente que é jujuba e nem se deu conta ainda. Vou procurar os textos que indicou, obrigado! Abraço, Juliana.

    ResponderExcluir
  8. Pior que isso é bastante comum. Tem tantas pessoas assim. Como sempre ficou demais, Zivi. Arrasou!!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Muito comum, Andy. Na verdade, é o que mais vemos, rsrs. Abs!

      Excluir
  9. Hahaha, adorei!
    E as Jujubas são cada vez mais jovens. Isso é assustador.
    Bjs, Rodrigo!
    Voltarei em breve com o blog. Esse universo me faz uma falta danada.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Lucimara, andava sumida! Sempre um prazer ter você por aqui. E volte logo ao seu blog, seus textos são ótimos! Bj.

      Excluir
  10. Hahahaha. Textos comportamentais, os meus favoritos. Essa necessidade de aprovação é mesmo feito açúcar, vicia. Acho que já vivi algo parecido (mas antes da era virtual, na época do colégio), eu era cercada por amigas com famílias japonesas, que surgiam com canetas, chicletes e vários outros objetos xinguilingues que as tornavam mais queridas e aceitas na escola. Claro, meu pensamento era de gente imatura, superficial. Uma hora a gente cresce, né? (Ao menos é o que se espera, com ou sem internet).
    Meu melhor abraço pra vc!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pra mim, Lu, todo mundo ficou infantilizado nas redes sociais. É uma falta de bom senso e um exibicionismo de dar dó. Tem muita jujuba pro meu gosto. Bjo e volte sempre.

      Excluir
  11. Para mim, Jujubas são mulheres, moças, meninas que não se amam. Não se aceitam como são e escondem-se atrás da make, do Instagram, do Snap e de qualquer outra coisa que seja virtual. Não buscam ler e saber de noticiários, não entendem de política, fazer uma faculdade já é o suficiente. Com isso, sobra tempo para malhar e postar fotos sensualizando para ganhar seus vários likes, não porque são 'interessantes', mas porque estão à mostra.
    Em contrapartida, outras que estão ocupadas se informando e enriquecendo seu intelecto, não tem tempo para ficar preocupada em ser a 'sarada', postar nas redes sociais e vibrar a cada curtida por isso. Elas são inteligentes e o tamanho da sua bunda não importa. São resolvidas! Sem mimimi...

    ResponderExcluir
  12. Obrigado pela visita, Dayane. Você me parece mais radical do que eu, rsrs. Até acho possível mulheres malhadas e inteligentes, sem os excessos das "jujubas". Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Volte mais vezes. Abraço.

    ResponderExcluir
  13. Claro que é possível!
    Mas sem nível "jujuba", é bem raro, mas é possível, rs...
    Abraço! :)

    ResponderExcluir

Postar um comentário