Amor de cinema

Um beijo pra Malévola

O amor, aquele tipo Romeu e Julieta, existe? Três filmes que me salvaram do tédio também me deixaram com essa pulga gigante atrás da orelha.

O primeiro foi "Homens são de Marte", inspirado na peça homônima de Mônica Martelli. O filme, a melhor comédia nacional desde "Minha mãe é uma peça", mostra a hilária busca de uma mulher de 39 anos por um novo namorado. A receita só desanda no final, com a manjada cena do casamento, mas é preciso dar crédito a Martelli pela empreitada. O amor só aparece quando ela, em tese, aprende a escolher melhor. Ainda assim, permanece o enigma, que ela mesma lança: "O que vai acontecer amanhã? Não sei. Ninguém sabe".

"Malévola", da Disney, marca que sempre vendeu o amor cor-de-rosa, conseguiu, por incrível que pareça, ser mais astuto. Angelina Jolie - um estouro, pra variar - é quem acorda, com um beijo na testa, a Bela Adormecida do sono profundo. Não o príncipe bonitinho. Malévola quebra a maldição que lançou sobre a princesa, ao descobrir que o amor, em sua essência, não é necessariamente o romântico, aquele que todos nós idealizamos e que, quase sempre, acaba em separação. 

"Álbum de Família" é mais ácido. Com interpretações monstruosas de Meryl Streep e Julia Roberts, é uma faca afiadíssima no cerne de uma questão que, geralmente, varremos para debaixo do tapete: amamos mesmo a nossa família? Ou lutamos contra nossas antipatias naturais, em nome de uma convivência mais florida com os que a genética e o matrimônio nos impõem como parentes? 

O cinema, que por tantas vezes se resumiu a comédias românticas intragáveis, agora surpreende pela diversidade. Em "Homens são de Marte", Fernanda, a personagem de Martelli, quer se apaixonar e faz força pra isso, iludindo-se a cada novo homem que aparece. Em "Malévola", esse idealismo perde força para o amor quase materno que Jolie nutre pela garota amaldiçoada. Até porque "Malévola" é traída por seu amor da maneira mais cruel. Já em "Álbum de Família", não existe muita esperança, nem entre mulheres e seus maridos, muito menos entre pais e filhos. O amor, ali, é desculpa para a prática do sadomasoquismo emocional, com um sapateando nas fraquezas do outro.

"As pessoas conseguem se convencer de que estão apaixonadas até por uma pedra pintada", bombardeia a personagem de Julia Roberts, numa conversa com a irmã. Pode ser. Cazuza não cantou que adorava um amor inventado? Será que essa não é a nossa grande perdição? Acreditar que amamos sem, de fato, amarmos? Afinal, vivemos em função de uma projeção, alimentada pelas carências?

Eu acredito em alguns amores que já foram colocados à prova. Amor de amigo existe. Amor de família, depende. Amor de bicho e de mãe é quase incondicional. Mas será que esse amor de casal é real? Ou fomos apenas programados para a paixão, essa tolice que nos leva a tantos becos sem saída, a tantos desencontros, a tantas armadilhas e a tantos finais controversos? Não sei. Ninguém sabe. Nem a Mônica Martelli. 

É Dia dos Namorados. Melhor pensar nisso outra hora. Em todo caso, meu beijo vai pra Malévola. Ela, que teve as asas cortadas pelo namorado, por quem jurava estar apaixonada. Impossível arrumar metáfora melhor pra esse clichê do 12 de junho. 

Comentários

  1. Delicia de texto...olha, não vi nenhum destes, pois onde moro não temos cinema, mas neste próximo final de semana irei pra cidade vizinha especialmente pra ver Mônica e Paulo Gustavo, fã de carteirinha mesmo.

    Seu texto me faz pensar...e vem ao encontro do que tenho refletido muito ultimamente: nunca amei. Era carência, era projeção, apenas. Cheguei a essa triste conclusão outro dia, varrendo minha casa kkkkk genteeeeeeee, eu nunca amei? Não, sua linda, nunca, nunquinha. Era tudo fruto da educação judaico-cristã, da influência do meio, desse romantismo esquizofrênico que desde cedo nos é incutido. Amei momentos, amei corpos, amei sensações. Putz....e agora? Como eu durmo com um barulho desses?

    Well....kkkkk agora eu cheguei na minha pedra filosofal: eu preciso amar a mim mesma, pelo menos. Talvez assim, quem sabe, um dia eu possa amar de fato. Penso que o amor verdadeiro é o que sinto pelos meus filhos, meus amigos, meu cachorro. E de todos, tenho uma certeza: nem meu cachorro me ama incondicionalmente kkkkkk ele quer satisfazer suas necessidades afetivas, quer brincar, comer, tomar água, quer que eu jogue a bolinha pra ele pegar. Será que o amor de um homem não seria mesmo bem isso? Satisfação de necessidades afetivas, sexuais, intelectuais?

    Não sei...talvez não haja explicação...só sei de uma coisa: cansei de amores inventados pra me distrair. Quero "sustância", sabe? kkkk Não tá nada fácil porque o nível de exigência da pessoa aqui está alto...(mal da maturidade). Mas enquanto isso vamos ao cinema, porque só o cinema e a literatura nos salvam. Amém.

    Beijo, meu querido. Amei este coment-desabafo.

    ResponderExcluir
  2. Maria Tereza, você captou o espírito da coisa. Em última instância, estamos em busca de nossas satisfações. E projetamos isso no outro, até o limite do insuportável.

    Eu comecei a duvidar um pouco desse amor romântico, acho que a gente meio que decide gostar e se apaixonar por alguém que nos desperta, no mínimo, atração física e identificação. O amor de verdade talvez seja uma coisa mais abrangente, pura, livre de intenções sexuais e egoísmo.

    No fim das contas, amamos o que as pessoas nos despertam em relação a nós mesmos. Nos apaixonamos por uma sensação. Sei lá, acho muita viagem falar nesse assunto. É praticamente uma aula de Filosofia e Psicologia. Talvez seja apenas o momento, vamos descobrir.

    De qualquer forma, o amor por si mesmo é real. Esse existe. Atesto! Rsrsrs.

    Vá ao cinema, minha querida. Leia. Você vai adorar os filmes. Essa troca com a arte é, de fato, a única coisa que consegue nos fazer melhores e a buscar um amor livre de vícios, auto-comiseração e alegrias paralelas.

    Bom demais ter vc por aqui e na minha vida. Tamo junto! Bjos.

    ResponderExcluir
  3. Amadissimooo!!que texto mais gostoso, igual minha ultima sessao de cinema!!!otimo filme e companhias maravilhosass!!e vamos falar de amor? Cosmopolitans nas mãos, haha, e vamos la!!! Hoje eu diria que : " Amor é o que dá sentido para a vida, encara os defeitos e decide se eles podem ser superados pelas virtudes "

    Humm..começo dizendo que: ser humano não precisa de um amor, mas de amores. E detalhe precisa de três: Agape, Eros e Philos, para que seja um ser (quase) completo...

    vamos por partes:

    Amor agape: incondicional, diria ate que religioso... sempre me vem a mente Jesus Cristo, que deu a vida de maneira cruel por amor, e qual outro ser seria capaz da mesma loucura??!!amor materno!! certa vez ouvi a seguinte frase : "o amor só é verdadeiro, quando se é capaz de dar a propria vida por outra pessoa..." seriamos nós capazes de morrer por alguem sem ser nossos filhos??se a resposta for sim, supera-se tudo que já dissemos... e sim amamos de verdade.

    Amor philos : ahhh esse sim, adorooo!!!é o amor intelectual, de alma, de amigos verdadeiros!!!Grandes amigos vivem intensamente o philos, onde o amor é menos egoísta, e a realização das ideias em comum é o principal objetivo, geralmente procuramos fazer amizades com pessoas que nos agradam, cujos interesses intelectuais e gostos compartilhamos.Diria ate que Philos é o meio caminho do amor verdadeiro.

    E ele...Eros : amor que aproxima duas pessoas que possuem sede de se conquistar e pode ser repleto de paixões avassaladoras.Acho que essa é a parte mais gostosa (e fogosa tambem haha) do amor, quem não gosta de viver intensamente uma paixão??Contato fisico é bom e faz sim parte de todo relacionamento! E diria mais: esse amor sempre aparece quando "pinta" a carencia...kkk

    E no final sempre nos achamos seres incompletos e que jamais teremos alegria completa, satisfação por inteiro...mas veja bem... ate porque se fôssemos seres que nos bastássemos, certamente nos isolaríamos dos demais, tornando-nos auto-suficientes... daí a constante procura!!

    E agora te pergunto : somos capazes de ter as tres partes do amor unidos em um so, dentro de nós mesmos??? Sera que é nossa sina passar a vida inteira vivendo essas tres fases do amor?? e mesmo assim vamos sempre continuar procurando, e sabe pq?? Justamente é a procura que nos torna seres evoluidos, que nos faz ter amor proprio, a descobrir o que queremos ou não para nossas vidas, a criarmos maturidade... ai sim talvez o amor verdadeiro, em suas tres fases chegue para ficar!

    AAhh falei, alias escrevi, escrevi...e o mais importante eu ainda não disse : amo voce!!! meu amigo de alma, pra toda vida!!!

    ResponderExcluir
  4. Belo tratado sobre o amor, minha amiga! Mas minha proposta é justamente refletir sobre esses "amores" por carência, sobre a "obrigação" que o mundo nos impõe pra amar, sobre as artimanhas do nosso cérebro para convencer a gente de um sentimento que talvez nem exista de fato.

    O amor existe, sim. Mas duvido da maioria dos que se apresentam como tal.

    Bjos!

    ResponderExcluir
  5. Já havia lido o começo do texto mas quando percebi que ele se referia a três filmes que queria ver mas não tinha conseguido parei pouco ates de terminar o segundo parágrafo.

    Dos três vi apenas Álbum de Família mas sei que suas reflexões não se prende aos filmes. Um filme denso, porém com ótimas atuações de Meryl Streep, como sempre, e Julia Roberts.

    Falando sobre relacionamento.
    Não acredito que precisamos estar com alguém ao lado para estarmos completos, primeiro devemos ser felizes sem a dependência de alguém ao lado, conseguindo isso estamos prontos para tentar algum relacionamento. Relacionamento esse que venho repensando qual é a melhor maneira de mantê-lo.

    Não digo que devemos ser auto-suficientes ao ponto de nos isolarmos mas se dissermos que precisamos de alguém para sermos felizes, completos, estamos colocando no outro o peso de nos fazer felizes.

    Não acredito que a maturidade nos torna exigentes mas sim conscientes do que queremos ou não, do que consideramos ser essencial ou que abrimos mão.

    ResponderExcluir
  6. Fabrício, apenas uma consideração: não é preciso parar de ler um texto porque percebeu que não viu os filmes citados. Se todos fossem assim, ninguém jamais leria as resenhas/críticas de filmes publicadas em revistas e jornais.

    Como vc mesmo disse, minhas considerações vão além. Os filmes servem apenas como pano de fundo para as reflexões. E, caso você queira, assista!

    Sobre suas observações referentes a relacionamentos, concordo com tudo. O que mais vejo, porém, é gente como muito discurso e pouca atitude. Tipo: "olha como estou bem!". Mas, na verdade, toma tarja preta, porque não suporta ficar sozinho. Ou pega qualquer tapa-buraco e tenta se convencer, todos os dias, de que está apaixonado, de que ama, sem amar de verdade.

    Claro que esse não é o seu caso.

    Abs e volte sempre!

    Abs.

    ResponderExcluir
  7. ual... vida inteligente falando (bem) de filme da disney. Foi por causa da "pedra pintada pra se apaixonar" da Julia Roberts que cheguei no teu texto, e nos comentários... e acabo de colocar Malévola na listinha da locadora pro final de semana. Boa a reflexão toda.

    ResponderExcluir
  8. Juliana, depois de ver o filme, volta aqui pra me contar. Acho que vai gostar. Bjo.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. acabei de assistir Malévola, e ao contrário de você, permaneci entediada durante todo o filme... filmequinho.

      já era tempo mesmo dos roteiros serem atualizados nos contos de fadas. E se observar melhor, percebe-se que ainda vendem outro tipo de “burrice emocional” (pra fazer oposição à inteligência emocional que andam vendendo em psicologia): Malévola amargurada, dedica a vida pela vingança. Que desperdício de tempo, no caso, 16 anos, até se dar conta de que poderia amar novamente, e amou.

      na vida a gente experimenta de tudo um pouco; se apaixona, leva toco e dá fora. As vezes dói, as vezes torra a paciência... e a gente vai aprendendo a lidar com as situações, se tornando mais racional e menos levados pelos sentimentalismos morais tão impostos pela cultura da nossa sociedade.

      o divã é teu, vim só dar pitaco, e “álbum de família” é um ótimo roteiro sobre as nossas fragilidades em lidar com relacionamentos diversos. A convivência é um exercício de paciência forçado, onde temos que aprender a compreender, tolerar, aceitar e ainda assim impor-se para ser compreendido, tolerado e aceito, ou rompem-se os laços. Quem acreditou em amor romântico e se entregou aos costumes do “casamento felizes para sempre” aprendeu isso com o tempo.

      tenho preferido uma pedra pintada, mas ando inclinada em adotar uma gatinha, pra chamar de Mia!
      beijo pra você também.

      Excluir
    2. "Malévola" é um filme de Disney. Não espere nada impactante. Só de transgredir os costumes, acho que já tá valendo.

      Já "Álbum de Família" é filme pra ser ver uma vez só. Muito pesado. E válido. A família pode ser o paraíso, ou o inferno...

      Obrigado. Volte sempre!

      Excluir

Postar um comentário