Bala de borracha

A bomba da política

Eu não gosto de política. Exercer o jornalismo diário por tantos anos me fez ver e ouvir coisas que ajudaram nessa constatação. Me refiro à política partidária, claro. Essa que domina o Congresso e nossas prefeituras. 

A culpa, é bom que se diga, é do povo. Nenhum canalha brota no poder. Os canalhas são eleitos (leia: ELEITOS). O povo que os elegeu é o mesmo que vai às ruas protestar contra o aumento da tarifa do transporte. O mesmo que exige serviços públicos de qualidade. O mesmo que grita contra os milhões gastos com a Copa do Mundo. O mesmo que, numa demonstração de irracionalidade e contradição, vandaliza (isso mesmo VANDALIZA) o patrimônio público. Não são todos, reconheço. Mas a quebradeira existe. Com a economia do país quebrando, talvez essa seja a melhor metáfora. Vamos quebrar geral. Só que não.

Eu desisti de votar quando o Tiririca foi consagrado nas urnas (leia de novo e com atenção: CONSAGRADO). Eu não participo mais da política assim, votando, porque o voto só resolve quando é sério. No Brasil, não é. Prefiro fazer a minha parte como cidadão e como ser humano. Prefiro separar o lixo e tratar o outro com respeito, dignidade. Os políticos são reflexo de seu povo. Não vejo ninguém me refletindo desde que me tornei um homem consciente. Não sou inerte, pelo contrário. Apenas me recuso a alimentar essa máquina suja. 

Sim, o povo tem uma força que desconhece. E que não sabe usar. Vale mais pela imagem e pelas manchetes. Achei lindo ver aquele monte de gente ocupando as avenidas, segurando a bandeira do Brasil, cantando o Hino. Para quem vê de cima, parece mesmo que os vinte centavos da passagem de ônibus se desdobraram num protesto geral e uníssono contra as injustiças. Seria realmente fantástico ver tudo isso tomando forma e gerando algum resultado concreto em benefício do povo que vota mal. Mas é quando o povo vira massa que a razão evapora. 

E isso está não só no quebra-quebra, que destroi o que é do próprio povo, mas também nos inúmeros cidadãos que engrossam o coro porque viram a passeata na TV. Muitos, aposto, não lembram em quem votaram. E seriam incapazes de comentar a história recente do país, recheada de escândalos e vergonhas que vão muito além do Mensalão.

No meio de tudo isso, temos uma presidente omissa. Justo ela, que sempre se declarou assertiva. Cadê? Temos uma mulher que não se sensibilizou nem mesmo diante dos protestos (alguns deles internacionais) contra a escolha do polêmico (pra não dizer outra coisa) Feliciano para a Comissão de Direitos Humanos. 

Moral da história: os políticos estão errados (quando não estiveram?). Estão errados porque são corruptos, não resolvem nada, querem sempre levar vantagem, às custas de eleitores ingênuos. E o povo também erra. Povo que fura fila. Povo que tem "gato" da TV a cabo. Povo que polui. Povo que se espelha em jogador de futebol semi-analfabeto ganhando milhões.

Povo que não lê e paga mico no Facebook. Povo do jeitinho. Povo da propina, da troca de favores. Povo que passa no sinal vermelho. Povo que tem o governo que merece. E que depois quer jogar pedra, coquetel molotov e reclamar da truculência da polícia.

Isso aqui é uma generalização. Incômoda, eu sei. Tem gente boa e culta, sim. Tem policial que honra a farda, sim. Eu mesmo conheço uns dois brasileiros que também já separam o lixo em casa, fecham a torneira enquanto lavam a louça, não fazem joguinho hipócrita com amigos e amores. Que acreditam no resultado do trabalho e da honestidade. E que anseiam por alguém digno no poder. Pode ser que algum desses esteja lá no meio da multidão.

De qualquer forma, é importantíssimo que essa gritaria sirva de lição. Vamos deixar que o futuro nos surpreenda pelo bem. E que, surpresa das surpresas, possamos assistir à ascensão de um político bem intencionado. Fruto de um povo igual.

Comentários

  1. Eta amigo foda esse!!! Não tem jeito de não amar!! Bjusss, Karina.

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    1. Gentileza sua, hehe. E repare que o povo quase não comenta. O que, neste caso, é bom. Deve ter muita gente pensando...Bjos e volte sempre!

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  2. Rodrigo, hoje, há algumas horas, estava aqui assistindo TV e vi novamente aquele mar de gente na capital paulista. Desliguei a TV e refleti um pouco.
    Tudo o que eu pensava, você escreveu aqui. Liguei o computador agora, desejosa de escrever exatamente este texto que você escreveu.
    Essa questão do voto é muito séria, mas como vc mesmo disse, tem gente ali - não generalizando, claro - que não sabe nem em quem votou... Tem gente ali que está fazendo volume e só. Gente que não educa seus filhos, gente que se conforma com bolsa família e todas as outras disponíveis, dentre tantos outros benefícios que lhe convém...
    (ah, sem contar algum cidadão ali erguendo a bandeira do PSTU, rs. Não seria uma manifestação democrática e apartidária?)
    Estou um pouco descrente em meio a tanta hipocrisia.
    Espero, de verdade, que tudo isso traga algum bem pro país. Até agora, o que só consigo enxergar é o que vc expressa tão bem aqui.
    Ótima reflexão! Abraço.

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  3. Lucimara, que bom que você partilha desse questionamento. Eu sou a favor da manifestação pacífica e consciente. E tenho ojeriza a essa política suja do Brasil. Mas acredito que precisamos ter moral para protestar, para exigir. A maioria, pelo que vejo no dia-a-dia, não tem. O segredo é olhar para si mesmo. E se perguntar: "sou mesmo um político honesto na minha vida? Posso exigir isso do outro, do meu governante? Votei pelas razões certas?".
    Obrigado pela visita. E volte mais vezes. Bjo.

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    1. Exatamente! Manifestação pacífica e consciente!!!

      Espero que, daqui pra frente, a ignorância de tanta gente inconsciente não aumente ainda mais os prejuízos causados...
      Quem sabe agora vai... Bj

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  4. É, meu amigo, por razões profissionais, vi e vivi todo esse movimento muito de perto, de dentro, pra ser mais exato. Como jornalista e como cidadão, não gostei do que vi. Nem tanto pelo vandalismo, já que esse tem condenação quase unânime. Triste ver que quase a totalidade é formada por gente que realmente não está ali pelos 20 centavos, mas pela foto no instagram, pela música, pelas risadas com os amigos, para ver de perto o que antes viam pela tv. Uma massa ariana, de olhos verdes e iPhone no bolso. Cheguei a ver lindas loiras de salto alto!!! Só não vi povo. Povo, mesmo, que anda de ônibus, que depende do plano de saúde do emprego, que bate perna pra pesquisar preço. Vi gente que repete qualquer frase da menina do megafone. Se ela disser "somos todos filhos da puta" a massa acéfala repete com força. O tal "movimento democrático, a voz das ruas" nomeado pela mídia, só o foi por medo. Medo de que, nós, jornalistas, apanhássemos nas ruas, como trucidados foram nossos carros. Produziu-se um enorme factóide sem sentido, motivo ou objetivo. O Brasil caminha para trás a passos largos, meu amigo. O Gigante emburreceu. Não há nada tão ruim que não possa ser pior.

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  5. Ricardo, acompanhei suas impressões sobre a manifestação pelo Facebook. E acredito que, de perto, o negócio seja mesmo pior do que imaginei. Mas me mantenho otimista. Espero que algo bom e producente surja dessa bagunça toda. Um abraço!

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  6. Uma melhora no quadro social passa, necessariamente, por uma melhora na alma, nos modos, no espírito, nas intenções. Ainda estamos longe disso, mas, quero crer, no caminho.

    Outro abraço esperançoso!

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