MDNA

Que preguiça da Madonna


Sei que muita gente ficou esperando por este texto, logo após o show da rainha do pop em Porto Alegre. Sim, fui ver de pertinho, mais uma vez, essa tal da Madonna. E precisei de algum tempo para admitir a mim mesmo: ela está cansada.

A turnê, por si só, é, de longe, a mais deslumbrante da carreira. O palco da MDNA Tour é a última palavra em tecnologia e grandiosidade. As trocas de figurinos e cabelos acontecem numa piscada. Mas Madonna, embora linda aos 54 anos, não escondeu a preguiça. Dançou com cara de poucos amigos e sem muito entusiasmo. Disse que estava gripada para justificar o atraso, indesculpável, de quase quatro horas. E só se animou lá pela penúltima música. Quase ninguém percebeu. Eu, com os olhos treinados por outras três turnês, sim.

Madonna parece ter se cansado de si mesma e até do público que a segue. Não é simpática. É perspicaz, mas falou pouco com os fãs. O playback entra aqui e ali. Nada demais, culpa do pula-pula de alguns números mais acrobáticos. E do último CD, um tiro dançante e quase adolescente, sem muita direção. 

O fato é que, após "Ray of Light", a obra-prima de 1998, todo mundo espera uma Madonna mais madura e menos preocupada com a rivalidade das novatas. Na era MDNA, senti o cheiro do desespero desnecessário. Afinal, Madonna, cansada ou não, ainda manda no universo pop. 

Não foi a melhor Madonna que já vi. O repertório, desta vez, estava meio sonolento. A plateia, já exausta pelo atraso, se esforçava pouco para cantar junto. Madonna não precisa ser saudosista, é verdade. Digamos, no entanto, que ela caprichou no visual na mesma proporção em que deu de ombros para alguns hits. Para a satisfação geral, "Vogue" e "Like a Prayer" estavam lá e, não por acaso, foram os momentos mais brilhantes.

A polêmica dos ingressos encalhados nem merece atenção. O estádio estava lotado. O que faltou mesmo foi a explosão de outrora. Madonna, que também é mãe, empresária, atriz, diretora, ícone e mais o que você quiser, costuma ser dinamite. Ali, estava menos barulhenta, mais burocrática. E a gripe pode não ter muito a ver com isso. Quero muito estar enganado. 

Uma coisa é certa: o Brasil, no fim da maratona de shows, virou mera agenda para uma rainha que não corre o risco de perder o cetro, mas precisa, com urgência, repensar os giros e a estratégia.

A nova revolução de Madonna, gostemos ou não, já começou: a diva envelhece sob os holofotes. Sem sucumbir, é bom que se diga, às drogas e à aposentadoria, como muitos de seus contemporâneos. Poderia estar decrépita e decadente. Prefere ser produtiva e inspiradora. Nunca um artista pop chegou tão longe - e bem posicionado - como a autora de "Express Yourself". Continua sendo o maior show do mundo, mesmo gripada, mesmo cansada, mesmo sem ser novidade. Eu, como fã número um, é que aprendi, com a própria, a ser chato e exigente.

Não vejo a hora dela parar de bocejar e espantar a letargia. Madonna, a dama do autofortalecimento, quem diria, precisa de um antigripal. Quem sabe assim eu também acabo com essa preguiça que ela me deu. Que venha a próxima era.

Comentários

  1. Wow! Que texto! Rende vááários papos sobre a Rainha do Pop e a indústria da música.

    Não tenho o mesmo olhar e experiência em Madonna que você e – talvez – por isso tenha ficado impressionado com o show e tudo que ela continua mobilizando.

    Sobre seu último álbum, MDNA, boa parte da impressão ainda é aquela que ficou quando ouvi pela primeira vez: legal, mas nada de mais. Salvo algumas faixas realmente dignas de Madonna – ou seja, ousada e inovadora, como "Gang Bang" e "Masterpiece" – outras, incluindo os singles, poderiam ser tocadas por outras artistas pop.

    Tudo isso, qualidade misturada a superficialidade, leva a ótima discussão: como se manter no topo por mais de trinta anos?

    Para não me estender ainda mais no comentário, falando por mim, estaria de saco cheio de promover CDs e turnês e a coisa só piora ao se tratar de alguém tão perfeccionista que sempre se cobra a superação de si mesma.

    Mas estamos falando de MADONNA. Então...

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  2. Amo essa Deusa!!! Não foi a primeira vista que me apaixonei por ela.Nasci em uma família de pais conservadores e radicais com postura severa em relação ao meu comportamento.Qdo MDNA entrou em erupção eu já estava quase casada, mas ainda assim prestava muita satisfação da minha vida a eles.Demorei um bom tempo pra escancarar ao mundo minhas opções, mas sempre as escondidas curtia minha inspiração... O tempo passou, não consegui realmente ser como ela, porém aprendi a me libertar das amarras das cobranças e fui ser feliz. Sinto não ter feito isso antes, mas, como tudo tem seu tempo, estou aqui e continuo apaixonadamente fã de Madona, mesmo cansada.. Obrigada por me dar a oportunidade de ver um pouco mais de minha Deusa, de saber que ela é normal com suas limitações ,mas, principalmente por me deixar expor um pouquinho de mim! Sempre te admirei e não nego, mas depois de saber que temos "gostos"em comum, passei a acreditar mais ainda , que o acaso nos aproximou , mas que Madona nos uniu pra sempre!! bj

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  3. Pra mim o show foi perfeito e ela estava ótima ;)

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    1. Luã, MDNA é uma produção impecável. Sim, ela estava ótima. Mas, acredite, já vi ela melhor ainda! Um abraço e volte mais vezes.

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  4. Matheus, para você, tenho certeza, foi perfeito. Para mim, de certa forma, também foi. Sempre é. Madonna, mesmo quando não está 100%, consegue ser sensacional. É que, de fato, a postura dela no palco, desta vez, me chamou a atenção, na comparação com as anteriores, em que ela estava explosiva. Talvez a explicação seja simples: depois de mais de 80 shows e sete meses na estrada, Madonna ficou de saco cheio da turnê. Foi a mais extensa da carreira dela. Vamos deixar a mulher descansar um pouco. Não tem que ser perfeita em todo show. E estaremos juntos no próximo.

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    Tânia, é sempre um prazer descobrir onde estão os fãs de Madonna e quais são suas histórias.
    Assim como você, lutei para me libertar de várias amarras. Também não sou Madonna, mas posso dizer que me tornei um bom discípulo. Adaptei à minha vida a filosofia dela: liberdade, responsabilidade, verdade e trabalho.
    No nosso próximo encontro, teremos muito o que conversar. Obrigado por mais uma visita ao blog. Bjo!

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