Vazio virtual

Saí do Orkut


Saí do Orkut. Ou quase. Tirei as fotos, simplifiquei o perfil. Tô lá, meio escondido. Só acesso umas duas vezes por semana. Bateu paranóia, sabe? Afinal, Orkut tem serventia?
Para o cinema, sim. A moda do computador pegou em “Mensagem pra Você”, comédia romântica dos anos 90, com a manjada dupla Meg Ryan e Tom Hanks. O filme arrebatou apaixonados mundo afora ao mostrar uma história de amor que se torna possível graças ao revolucionário e-mail. Desde então, a sétima arte e as novas tecnologias andam de mãos dadas. Até nas produções mais irrelevantes. No terror adolescente “Pacto Secreto”, deste ano, jovens bobocas fogem de mais um desses assassinos em série, no melhor estilo “Pânico”, com celulares que localizam namorados à distância. O vilão manda torpedos e fotos para suas próximas vítimas. Todas, claro, com o perfil cadastrado no Facebook, uma espécie de Orkut muito mais popular para as bandas de lá. O enredo é costurado de forma a só fazer sentido diante da comunicação do futuro. Uma tentativa de atrair o público jovem, que hoje prefere o laptop a uma sala de projeção. Uma lástima mercadológica contra a qual pouco se pode fazer.
O fato é que, como as outras ferramentas virtuais, o Orkut se transformou em mais um daqueles caprichos sem necessidade. A maioria coloca a carinha lá, quase sempre retocada no Photoshop, por exibicionismo. O Orkut virou vitrine das mais descaradas, símbolo incontestável de uma geração que vive pela imagem sem conteúdo. Tem até gente pelada. Sério. Já vi traseiros clicados em estúdio profissional, num ímpeto desesperado de autoafirmação ou, na mais esdrúxula das hipóteses, atrair eventuais parceiros. No Orkut, bumbum é cartão de visita. É como se ali houvesse uma competição velada de popularidade. Quem tem mais amigos no Orkut? Quanta bobagem.
As comunidades merecem um capítulo à parte. “Bebo, sim, e daí?”, “Eu amo o Seu Madruga” e “Mania, cada louco com a sua” são apenas algumas das que se aproximam mais do ridículo que da sátira.
Comecei a me preocupar quando percebi que estava me tornando um “orkutmaníaco”. Os sinais eram evidentes. Acessava mais de uma vez por dia para checar os recados. Sem falar no monte de gente que adicionei sem critério. Eu, popular? Atualizei o álbum com algumas fotos que me mostravam curtindo a praia, ao lado de recém-conhecidos. Quem se interessa? Como se isso não bastasse, fuçava no Orkut dos outros. Comecei a me sentir um espião sem ética, um bobo sem causa, um chato de galocha, um moleque que, de repente, perdia tempo na vida. Graças ao Orkut, eu era mais um entre milhões, surfando na onda prestes a arrebentar. Pulei da prancha.
Parei, refleti e desconstruí meu ego “orkutiano”. Estive a poucos cliques de me deletar do “cyberspace”. Até porque tenho plena consciência de que existo fora dele. Como Neo, em “Matrix”, quis me libertar da escravidão das máquinas. Porém, resolvi manter meu rostinho ali (sem Photoshop, viu?), por precaução. O Orkut já me foi útil, admito. Preciso dele no trabalho e para localizar velhos amigos. Também gosto das minhas comunidades, tão estúpidas como as de qualquer um. Vez por outra, me jogo nos fóruns de discussão da Madonna, dos filmes de terror e de alienígenas. Idiotices pra passar o tempo. Orkut é isso mesmo: uma idiotice. Hoje, sou menos idiota.
Orkut é perigoso. Como qualquer coisa que cai em mãos erradas. A profusão de perfis falsos, clonados, páginas que pregam o preconceito e até o crime já viraram caso de polícia. No universo virtual, diante das incontáveis possibilidades, como coibir, fiscalizar, punir?
Para quem tem namorado, então, Orkut é dor-de-cabeça. Casamentos acabaram por causa dele. A promiscuidade, ali, é inevitável. Você conhece alguém, que conhece alguém e, sem perceber, pronto, conheceu alguém que pode colocar tudo a perder. Alguns casais entraram num acordo inteligente. Sem Orkut na relação, por favor. Só assim, a tranqüilidade a dois é possível.
Pior que o Orkut só o Twitter. Tinham que inventar alguma coisa mais inútil. Por alguns meses, tive meu Twitter. Me senti pressionado a fazer parte do mundo assim, seguindo o fluxo, sem questionar a canastrice geral. O Twitter nada mais é que um MSN piorado. Você pode conversar com quem estiver te "seguindo” e deixar recadinhos retardados em páginas de gente famosa. Luciano Huck declarou ser viciado. O namorado da Demi Moore, o ator Ashton Kutcher, foi o primeiro no mundo a conseguir mais de um milhão de seguidores. E daí? As universidades, programas de TV, sites, revistas, jornais e o diabo a quatro já estão lá, todos “twittando”. Do contrário, perderiam o bonde da modernidade. Tô nem aí. Mas as empresas, pelo jeito, estão. Elas agora pedem Orkut e Twitter no currículo. A palhaçada foi tão longe que se transformou em critério de seleção. Tô fora.
Ainda sou do tempo do telefone e do bom e velho e-mail. Entre “Mensagem pra Você” e “Pacto Secreto”, fico com o primeiro. Prefiro à moda antiga. Encontro, barzinho, cinema, cerveja, sei lá. Para me contratar, que tal uma entrevista bem feita, olho no olho? Tudo, menos esse vazio internético, sem alma, sem personalidade, sem graça. Nunca pensei que diria isso tão cedo, mas...na minha época (e olha que não sou tão velho assim), era tudo muito mais gostoso.

Comentários

  1. É, meu caro. Sábias palavras. Também não fui fisgado pelo Twitter. Grande besteira, aquilo. E quanto ao Orkut, também já estou considerando mantê-lo apenas para que ele me lembre de aniversários de amigos.

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  2. Apoiado, companheiro. Se colocarmos os benefícios e malefícios, acho que ela acaba pendendo significativamente para fatores que mais atrapalham que ajudam. O meu, deletei há uns três meses e confesso que só sinto falta dele porque minha curiosidade sobre a vida alheia às vezes fala mais alto. Pura balela.
    Beijos e saudade enorme!!!

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  3. Sempre considerei o orkut um meio muito invasivo, por isso nunca tive. Porém, existem pessoas que adoram se expor, sentem necessidade de contar para os outros que foram viajar pra tal lugar, ou que vão se casar em tal mês, algo como uma disputa de ego. Ridiculous...Luciana.

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  4. Ro, quanto tempo!!!
    Mas concordo muito com você... deletei o meu perfil do Orkut há mais ou menos 06 meses, e confesso não sentir a miníma falta!!!
    Beijão...

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